segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A primeira noite

A primeira noite que passámos juntos dentro do mesmo tecto, foi maravilhosa. Jantámos um peixe assado no forno com  batatas, que estava delicioso.
Depois de arrumada a cozinha, com as tarefas bem delineadas, fomos para a sala onde ficámos horas a conversar. O Afonso falou-me dos receios que ainda tem. Eu compreendo, juro que compreendo. Também os sinto. É normal, porque as pessoas ainda não estão preparadas para perceber o amor entre dois homens, ou entre duas mulheres.
As nossas famílias pensam que somos apenas dois amigos, que resolveram partilhar uma casa e economizar nas despesas diárias.
Um dia vamos ter que conversar. Talvez reunir os parentes mais próximos, num jantar especial, para comunicarmos que afinal somos namorados e que estas duas vidas, são a nível sentimental, uma só!
O Afonso falava sem cessar destas hipóteses, quando o surpreendi com um beijo. Ele agarrou-me e beijou-me com uma força quase bruta. Terminámos juntos, na mesma cama, a fazer amor à luz do candeeiro de design futurista, que embalado pelos nossos movimentos, extinguiu a luz que então projectava.


Amanhã eu volto.

Diogo M

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

HOJE

 
 
Tudo começou há cerca de 14 meses. Olhei-o pela primeira vez naquele mês de Setembro, quando o leve frio de Outono ameaça o calor que parte.
Encontrei o Afonso num mero acaso. Encontro banal de amigos comuns. A conversa não estava nada de interessante. Lembro-me que falávamos de partidos políticos e das eleições legislativas que dentro de dias aconteceriam em Portugal. O meu amigo Miguel defendia o seu voto no PS. Para além de todo o prometido, o casamento Gay constava do programa eleitoral.
- Há mesmo necessidade disso? - perguntou o Afonso pousando levemente o seu copo de Água Tónica. 
Irritou-me aquela pergunta. Achei o tom preconceituoso e revirei os olhos de indignação. Guardo nitidamente na memória, a imagem do sorriso patético que o Afonso fez.
Gerou-se uma leve discussão, terminando com um "Até amanhã," gemido pela minha voz cansada e farta de palavras perdidas.
Fui de encontro ao meu carro, parado junto a um portão com o famoso sinal de "proibido estacionar," colado em forma de ovo estrelado. Por sorte ou intuição, não havia nenhuma multa! Ok, eu assumo: sabia que não sairia qualquer carro. A garagem é de um familiar meu.
Passados algum tempo, e num dia de intenso trabalho, o meu telemóvel deu sinal de mensagem. Ao contrário do habitual, não olhei de imediato para o visor e deixei-o repousar 30 minutos mais. Quando finalmente fiz uma pausa para beber um iogurte, peguei no aparelho e verifiquei que a mensagem recebida tinha sido enviada de um número não gravado na lista telefónica. Ainda hoje a tenho guardada: "Um café amanhã à noite, para discutirmos o casamento gay. Abraço, Afonso."
Fiquei completamente abismado. Naturalmente ele tinha conseguido o meu número através de amigos, mas porquê aquela mensagem? O Afonso seria gay?
Respondi naturalmente: "Sim, combinado. Abraço, Diogo."
Não vou obviamente explicar o resto da história, os caminhos percorridos e as indecisões, que transformaram uma amizade, num imenso amor. Afinal o Afonso era mesmo gay. Ele tinha-me provocado com a questão do casamento entre homossexuais. 
Até ao dia de hoje, percorremos um caminho comum, por vezes difícil e inconstante. Abraçámos momentos de luta e resistência. Transformámos provas em vitórias.
Mas HOJE, foi o dia mais bonito das nossas vidas. Não casámos, mas demos um grande passo. Decidimos viver juntos. A partir desta Quarta-Feira partilhamos o mesmo abrigo. 
Estou expectante. Feliz, mas também com medo. Vivemos numa pequena cidade e sabemos bem da maldade intrínseca da mente humana. Mas estamos juntos!! E não há nada nem ninguém, que nos roube a alegria deste momento.

Amanhã eu volto.
Diogo M